A partir deste ano abençoado, minhas festas juninas terão quatro bandeiras, pois ninguém mais do que o Frei (que agora é santo), para merecer ser festejado. Não que eu queira dizer que os outros três não mereçam! Não é bem isso, mas que o nosso santo brasileiro merece mais, ah... isso ele merece!
Santo Antonio de Pádua, que na verdade não era Antonio, e nem de Pádua, mas sim Fernando, e de Lisboa, foi um grande seguidor da doutrina do Cristo, e inspirado nas lições de humildade do pobrezinho de Assis, viveu na mais plena santidade... ele também é popularmente conhecido como o santo casamenteiro... e aí que entra meu pé atrás... já cansei de fazer novenas, de ir às igrejas que levam o nome dele, de fazer promessas, e nada! Já estou perdendo as esperanças... todo ano, no dia treze de junho, eu acendo a fogueira, coloco a bandeira no terreiro, faço doces, pipoca, quentão... e pulo a fogueira, feito doido, e não aparece nenhuma doida para pular comigo! Desculpe-me, meu Santo Antonio, mas eu não agüentei... tive que contar nossas desavenças...
Agora de São João, não tenho reclamações... mas que acho muito estranho fazermos um montão de doces gostosos para comermos em homenagem a um santo que se alimentava de gafanhotos, ah, isso eu acho sim... ele vivia com poucas roupas, num lugar quente, comendo gafanhotos, e nós aqui, no Brasil, em pleno aflorar do inverno, todos empacotados de blusas, comendo quitutes maravilhosos, em memória dele!? Vai entender...
Já São Pedro é um caso antigo... desde criança, lembro de minha mãe dizer que era ele que mandava no tempo... se ele quisesse chuva, choveria... lembro que eu precisava ir à escola, e minha rua era de terra, e quase sempre na hora que eu ia voltar para casa, desabava aquela aguaceira, mandada por São Pedro, só para me molhar e me fazer pisar no barro! Eu ficava tão bravo com ele, mas não podia falar nada, pois tinha medo que ele descobrisse meus sentimentos mais íntimos e na hora do acerto de contas, não me deixasse entrar no céu...
Já o Galvãozinho (Frei Galvão, para os mais íntimos), tem tudo para ser comemorado nas festas juninas... ele se chama Antonio, nome de batismo, e não Fernando como o outro... ele é gente nossa! Nascido no interior, cresceu vendo e participando das tradições do povo... ele nunca ficou prometendo casamento para ninguém, se alimentava como nós e não fazia chover na hora errada... era brasileiro, lá das bandas do sertão paulista, da interiorana Guaratinguetá... nos meses de junho, ele passava frio como nós, e como todo bom brasileiro, quando a coisa ficava preta, ele dava aquele jeitinho todo nosso: fazia suas santas pílulas, que numa época onde as ciências e a medicina ainda engatinhavam, servia de poderoso medicamento, sendo que ainda em nossos dias, as pílulas continuam funcionando e confundindo os descrentes...
O que faltava para ele era ser considerado santo! Se um conheceu pessoalmente São Francisco e é considerado doutor da Igreja; se o outro foi primo e batizou Jesus; e se o outro foi o líder dos discípulos e fundou a Igreja Católica, Frei Galvão, deu exemplo de humildade se espelhando no Santo de Assis, mesmo sem ter conhecido pessoalmente seu mestre... não batizou Cristo, mas serviu de instrumento à mensagem e à misericórdia do Salvador através das pílulas e do testemunho... não fundou a Igreja Católica, mas deu sua bela contribuição, erguendo edificações em nome de Deus e fundando a esperança em tantos corações desconsolados...
Por isso, repito, este ano irei inaugurar a quarta bandeira em junho! A bandeira de Santo Antonio de Sant´Anna Galvão, e irei pular a fogueira com muito orgulho... agora só falta escolher um dos vinte e sete dias restantes de junho... e viva Frei Galvão!
LUIZ ANTONIO CARDOSO
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