O Vale do Paraíba já viu nascer, ou por aqui se instalerem, grandes escritores, intelectuais e/ou historiadores do porte de Aziz Ab´Sáber, Altino Machado, Aroldo de Azevedo, Brito Boca, Camões Filho, Carlos Rizzini, Cassiano Ricardo, Cesídio Ambrogi, Dias Monteiro, Euclides da Cunha, Eugênia Sereno, Félix Guisard Filho, Francisco de Assis Barbosa, Francisco Inácio Marcondes Homem de Melo, Francisco Sodero Toledo, Homero Senna, Hugo Di Domênico, Joaquim Maria Botelho, José Augusto César Salgado, José Carlos Sebe Bom Meihy, José Fernandes de Oliveira (Pe. Zezinho), José Geraldo Evangelista, José Geraldo Nogueira Moutinho, José Luiz Pasin, Malba Tahan, Maria de Lourdes Borges Ribeiro, Maria Morgado de Abreu, Miguel Reale, Monteiro Lobato, Oracy Nogueira, Oswaldo Barbosa Guisard, Paulo Pereira dos Reis, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Plínio Salgado, Ruth Guimarães, Thereza Maia, Tom Maia, Ulpiano Toledo Bezerra de Menezes, Vicente Félix de Castro, Waldomiro Silveira, dentre outros, tantos outros que poderiamos citar numa lista quase infindável.
Temos inúmeros grupos literários, academias e faculdades de letras, instituições que se dedicam à trova, à crônica e a outros gêneros literários, bilbiotecas, livrarias, e muitos escritores, poetas, trovadores, sonetistas, hacaistas, cordelistas, romancistas, contistas, cronistas, memorialistas, jornalistas, historiadores, biógrafos, autores de não-ficção, de livros técnicos e milhares de amantes da leitura.
Temos também alguns escritores que já eram filiados a tradicional UBE –União Brasileira de Escritores, fundada em 1958 e sediada em São Paulo, como o trovador José Valdez de Castro Moura, a poetisa e biógrafa Rita Elisa Seda, a romancista e biógrafa Thereza Freire Vieira, dentre outros. Mas faltava algo...
Sentíamos que faltava, neste nosso querido Vale, banhado pelas águas do Rio Paraíba do Sul, e privilegiado com um luar tão lindo, que reina, majestoso, no lindo manto estrelado das noites de inverno, um grupo de literatos que se reunisse para defender a classe dos escritores e seus interesses, como um todo, assim como a UBE/SP tem feito há decadas na Capital bandeirante. Aproveitando da grande expansão da UBE, por conta dos núcleos que tem sido criados pelo interior paulista e mesmo em outros estados brasileiros, parecia que nosso momento havia chegado: o momento de ter, em pleno Vale do Paraíba, uma representação oficial da UBE.
Algumas ideias já haviam nascido, em alguns pontos do Vale... conta-me, meu grande amigo poeta Tonho França, de Guaratinguetá, que lhe ocorrera, certa vez, de termos um Núcleo valeparaibano da UBE. Mas a semente seria, definitivamente plantada, há algumas centenas de quilomentros daqui, justamente em Ribeirão Preto-SP, durante a realização do Congresso Brasileiro de Escritores, em novembro de 2011.
Nosso dileto amigo, escritor e jornalista Antonio Barbosa Filho, de grandes lutas em vários campos, estava planejando criar o Núcleo da UBE, sediado em Taubaté, ja há algum tempo. Chegou a planejar uma primeira reunião, para o dia 15 de setembro de 2011, que não se realizou por diversos motivos. Em Ribeirão Preto, em conversa com o romancista Menalton Braff, o mesmo o apresentou ao também romancista paraense Nicodemos Sena, que há pouco mais de três anos radicou-se em Taubaté, e que atua junto a diretoria da UBE, naquele momento ocupando o cargo de tesoureiro-geral. Barbosa Filho e Nicodemos, ambos residindo em Taubaté, combinaram realizar uma reunião para iniciarem as atividades, e, finalmente, no dia 8 de março de 2012, na residência de Barbosa Filho, no Distrito ítalo-brasileiro do Quiririm, em Taubaté, um primeiro encontro foi realizado, com a presença do anfitrião, e dos escritores Nicodemos Sena, Luiz Antonio Cardoso e Oswaldo Crisante. Naquele dia foi marcada a data da reunião onde iria ser fundado, historicamente, o Núcleo da UBE no Vale do Paraíba.
Taubaté, dia 15 de março de 2012, na residência do romancista Nicodemos Sena, foi fundado o nosso Núcleo, compondo-se, inicialmente, dos membros: escritor Luiz Antonio Cardoso (Coordenador do Núcleo), jornalista Antonio Barbosa Filho (1º Vice-Coordenador), escritora Karina Pereira (Secretária), escritor Oswaldo Crisante (Diretor de Apoio à Eventos) e romancista Nicodemos Sena (Conselheiro). Nesta data, além da fundação histórica do Núcleo, também tivemos as primeiras deliberações e os primeiros projetos foram discutidos. Outras reuniões aconteceram após, com a presença do membro da UBE Edmundo de Carvalho, de São José dos Campos, e de alguns convidados de Taubaté, como a escritora Alda Lopes, a escritora Angélica Villela Santos, o jornalista Camões Filho, a jornalista Iara de Carvalho, o poeta Leandro Monteiro, o trovador Martinho Monteiro e Rafael Lima (representando a Vereadora de Taubaté, e também escritora, Pollyana Gama). Nestas reuniões os primeiros passos da UBE no Vale do Paraíba foram traçados. Luiz Antonio Cardoso e Nicodemos Sena participaram de reuniões da diretoria nacional, em São Paulo e da posse da atual Diretoria Nacional, a qual Nicodemos integra. Luiz Antonio realizou parceria com a Universidade de Taubaté para o primeiro evento oficial, preocupando-se com a questão logística do evento, e Nicodemos Sena incumbiu-se de convidar os que comporiam a mesa diretora dos trabalhos.
No grande dia 4 de maio de 2012, a maratona começou a tarde, no Centro Cultural Municipal de Taubaté, onde a TV Cidade Taubaté montou seu estúdio para fazer a cobertura de grande evento que ali estava sendo realizado. Luiz Antonio Cardoso, apresentador do programa semanal Litteratudo, único programa da TV no Vale do Paraíba dedicado a literatura, entrevistou Luís Avelima, Marcelo Ariel e Nicodemos Sena.
Logo chegou a noite, toda especial, e estávamos já no Auditório do Departamento de Ciências Sociais e Letras da Universidade de Taubaté, cedido especialmente pelo Prof. Ms. Eduardo Carlos Pinto, Diretor daquele Departamento, a pedido de Luiz Antonio Cardoso, foi realizado o primeiro grande evento da UBE em terras vale-paraibanas: a posse oficial da primeira diretoria da UBE no Vale do Paraíba, a mesa redonda “A importância de Fiodor Dostoievski para a Psicanálise e a recepção de sua obra no Brasil”, e o lançamento, pelo selo LetraSelvagem, em Taubaté, do romance “Gente Pobre”, primeiro livro escrito pelo genial escritor russo Dostoievski. O evento integrou as atividades acadêmicas da Universidade, numa Semana denominada UNITAU COM(N)VIDA, onde os alunos foram dispensados das aulas regulamentares para participarem de atividades especiais. A mesa foi composta pelo jornalista Joaquim Maria Botelho (Presidente da UBE Nacional), jornalista, tradutor e historiador Luiz Avelima (1º Vice-Presidente da UBE Nacional e tradutor, diretamente do russo, do livro “Gente Pobre”), romancista e jornalista Nicodemos Sena (mediador da mesa-redonda e Presidente da Associação Cultural LetraSelvagem, que editou o livro “Gente Pobre”), poeta Marcelo Ariel (Vice-Presidente da Associação Cultural LetraSelvagem), escritor e ativista cultural Luiz Antonio Cardoso (Coordenador do Núcleo da UBE no Vale do Paraíba) e Prof. Ms. Eduardo Carlos Pinto (Diretor do Departamento de Ciências Sociais e Letras da Universidade de Taubaté).
O evento teve inicio com o Prof. Eduardo agradecendo a presença de todos, comentando sobre o UNITAU COM(N)VIDA e explicando que o evento não era uma atividade especificamente da UNITAU, mas sim, um evento literário de grande porte, agendado como parte integrante das atividades acadêmicas a partir do momento em que Luiz Antonio o procurara para apresentar a proposta. A palavra foi passada ao mediador, Nicodemos Sena, que compôs a mesa como relatado. Nicodemos fez a apresentação do que representava aquele evento para nossa região e para a UBE e passou a palavra ao Presidente Nacional, Joaquim Maria Botelho, que falou sobre a importância da UBE, como uma entidade que defende os interesses dos escritores, e colocou alguns aspectos políticos, de grande importância para os escritores e, obviamente, para nossa literatura. Falou rapidamente da luta histórica da UBE e dos problemas atuais. Antes de passar, a palavra, declarou empossado, como Coordenador do Núcleo da UBE no Vale do Paraíba, o escritor taubateano Luiz Antonio Cardoso, desejando-lhe sucesso na missão e retornando a palavra a Nicodemos Sena.
Luiz Antonio Cardoso, fazendo o uso da palavra, agradeceu a cada um dos componentes da mesa, ao Avelima e ao Ariel, pela mesa-redonda que se seguiria, ao Prof. Eduardo, pelo espaço cedido, ao Joaquim, pela oportunidade da criação do grupo e pela presença ali, naquele instante, para a posse oficial, e finalmente, a Nicodemos Sena, que, como Conselheiro do Núcleo e Diretor da UBE, passou todos os detalhes necessários para a conclusão daquela etapa. Luiz Antonio, utilizando-se da concessão dada pelo mediador Nicodemos, citou algumas pessoas presentes, que ali estavam representando entidades e categorias, como o poeta André Bianc (Movimento Poetas do Vale), escritor Camões Filho (representando os jornalistas de Taubaté), psicóloga Débora Inácia (representando os escritores de Campos do Jordão), Edmundo de Carvalho (Presidente da Academia Joseense de Letras), Prof. Esdraz Ferreira e Prof. Joel Peixoto dos Santos (representando todos os professores presentes), Fernando Ito (representado os artistas plásticos de Taubaté), Cel. Lamarque Monteiro (Clube dos 21 Irmãos-Amigos de Taubaté-SP), poeta Leandro Monteiro (Confraria do Coreto), trovador Loris Turrini (Seção de Tremembé da UBT – União Brasileira de Trovadores), poetisa Luiza Santos (representando a alma feminina da literatura taubateana), Prof. Ms. Luzimar Gouvea (representando o Curso de Letras da UNITAU), Dr. Paulo Pereira (Presidente da Academia Taubateana de Letras), Vanessa Alves (representando os estudantes joseenses), dentre outros. Após, Luiz Antonio citou, empossando a Diretoria do Núcleo, os companheiros Antonio Barbosa Filho (Vice-Coordenador, que estava na Holanda), Karina Pereira (Secretária, ausente por motivos de saúde), Oswaldo Crisante (Diretor de Eventos, em viagem à Portugal), e Nicodemos Sena (Conselheiro). Finalmente, declarando que fazia das palavras a serem lidas as suas, leu a mensagem que Antonio Barbosa Filho lhe enviou da Holanda, parabenizando a mesa, o público e falando da importância da UBE e da data histórica que estávamos presenciando. Sua carta entra para os anais da cultura vale-paraibana como documento que retrata a alegria e um sonho concretizado. Luiz Antonio asseverou, perante o público, que Antonio Barbosa Filho é o grande idealizador do Núcleo, e que só não está ali presente, e a frente do mesmo, devido suas constantes viagens ao Velho Mundo, onde se ausenta, periodicamente, por cerca de três meses.
Nicodemos passou a palavra ao Luís Avelima, que discorreu sobre sua experiência ao traduzir o “Gente Pobre”, de Dostoievski, sobre os anos que viveu na extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, sobre o idioma russo e a grandiosidade do romance escrito quando o grande gênio russo possuia apenas 24 anos. Comenta da descrição da pobreza feita por Dostoievski, ao criar os personagens Makar Aleksieievitch e Varvara Aleksieievna. Do gênio que ali já demonstrava sua grandiosidade, sendo aplaudido, antes mesmo de publicado, pelo grande crítico literário da Rússia naquele momento, Vassilión Bielínski, que disse, sem receios, que estavam diante de um novo Gógol.
Após, Nicodemos passa a palavra ao poeta Marcelo Ariel, de Cubatão, que comenta a grandeza da obra de Dostoievski, do retrato da pobreza, da recepção da obra de Dostoievski no Brasil, da grande influência do autor russo sobre Graciliano Ramos, dentre outros... Ariel também leu trechos de seus poemas, que mostram muito do que Dostoievski já via na Rússia da metade do século XIX. Falou também da atual hipocrisia, dos problemas sociais, da vida.
Após, Nicodemos abriu a mesa-redonda as perguntas do público, onde vários dos presentes fizeram perguntas especiais ao Avelima e ao Ariel. Avelima comentou de sua experiência no Chile e em Cuba. Comentou sobre o comunismo no Brasil e na União Soviética, sobre Prestes, Allende e Fidel... leu alguns trechos do livro “Gente Pobre”, demosntrando a descrição perfeita da pobreza humana realizada por Dostoievski. Comentou da influência, inclusive da possibilidade muito citada, de ter chegado a Machado de Assis, pois na época do fundador da Academia Brasileira, os livros de Dostoievski já circulavam pelo Brasil.
A mesa-redonda chegou ao fim, com a mesa rodeada por um público com brilhos nos olhos, citando, entre outros, nossos amigos Prof. Luzimar, Leandro Monteiro, Vanessa Alves, Prof. Armindo Boll, que estava coordenando outra atividade acadêmica e só pode chegar ao término, Dr. Paulo Pereira, e nosso grande amigo Loris Turrini, que gentilmente fez as vezes de fotógrafo oficial do evento. Naquele término, Avelima autografou sua tradução de Dostoievski, Ariel um de seus livros de poemas e Nicodemos um de seus romances.
O Núcleo da UBE foi, oficialmente fundado no Vale do Paraíba... como há 366 anos Taubaté fora o primeiro povoado a ser elevado a condição de Vila, e há 130 anos viu nascer o maior escritor da literatura infanto-juvenil do país, agora, é pelas suas portas, dentro de sua universidade, que a UBE começa o trabalho de organização e de união dos escritores vale-paraibanos.
Todos estão convidados para fazerem parte desta história, que, temos certeza, está somente no seu início... muito temos a fazer. A UBE e as outros instituições literárias, artísticas e culturais possuem um caminho árduo, porém, profícuo, devido o talento de seu povo, que luta, se esforça, e vai sempre em frente, diante das adversidades, buscando, com esperança e suor, com amor e força, com brilhantismo e superação, a cultura valeparaibana!
Todos estão convidados, finalmente, a trabalhar juntos pela construção de um mundo melhor, de uma literatura forte, que só será possível através do desprendimento dos egoismos mais enraízados em nosso íntimo, da diminuição deste egocentrismo persistente, que faz, muitas vezes, irmãos se tornarem carrascos, verdadeiros verdugos um dos outros por causas banais, por ínfimos momentos da fama, tão efêmera... vamos, de mãos dadas, trabalhar um pelo outro. Convido-os, meus irmãos escritores, a trilharmos os caminhos reluzentes e as vezes tortuosos desta existência, juntos, e a subir os degraus em conjunto, como uma verdadeira irmandade.. utopia? Depende de nós!
LUIZ ANTONIO CARDOSO